Monday, August 6, 2012

Livrarias

Hoje fui ao shopping com a minha família e, enquanto eles tomavam café, eu fui a uma livraria próxima. Finalmente entendi por que eu adoro tanto esse ambiente. Entendi que livros não são apenas algumas páginas sobrepostas nem a seção de best-sellers dos jornais; são vidas pedindo para serem examinadas, investigadas e compartilhadas. Tomemos como exemplo um livro acadêmico de medicina. São anos de estudo, de pesquisas, de erros e acertos, tentativas, choros, alegrias, entrevistas, curiosidades, frustrações, leituras, manuais, hospitais para que se forme uma ideia, uma teoria, e ela tome forma em corpo escrito. Um livro de poesia talvez não requeira tanta pesquisa, mas exige sentimento, culpa, desgosto, felicidade, chocolate, levar com a cara no chão, perder, perder-se, achar, achar-se, amar, amar-se, e caberia aqui um monte de verbos reflexivos. Outro caso, livro de culinária, deve ser uma delícia, com o perdão do trocadilho. Imagino que tantas fotos e páginas tenham que ter sido refeitas com pingos e pedacinhos de comida, eu não resistiria. Ademais, quantas vezes não terá precisado o autor pensar num prato, cozinhá-lo, achar o ponto, provar, fotografar?

Livros não são objetos, têm vida, têm alma, são imortais. A alegria de entrar numa livraria consiste em ter aberto diante de si o mundo, dissecado, escancarado e ainda catalogado, pra que a gente se perca nos assuntos da vida. A gente até se perde no meio daquilo tudo, mas ao se perder, a gente se acha. Ler um sumário é como começar a conhecer uma pessoa, começamos com o nome da obra, quando foi publicada, em que contexto, do que se trata e, a partir daí, o nosso eu nos diz, me interessa!, ou, nem a pau, que coisa chata!. O livro é mais honesto, menos político, vai direto ao por que veio, parece que traz mais segurança.

Assim como o café ou o chimarrão, o livro é uma forma que o homem encontrou de dividir-se, de compartilhar-se com os outros. A diferença deste para aqueles é que este não necessariamente precisa de uma segunda pessoa física; geralmente é o papel e eu. Nós dois, um imaginando o outro. Vou procurando nas seções algo que me interessa, vejo aquela capa bonita, aquele título sedutor e quero decifrar aquele mistério inicial, saber o porquê da sensação de atração. O autor do livro talvez nem pensasse no seu público ao escrever, mas saber que alguém vai ler faz a gente se sentir aliviado, aliviado das dores, saudades, melancolias e amores que não cabem na alma e no corpo e que se nos esvaem à medida que escrevemos. Do mesmo jeito que a psicologia diz que falar ajuda, eu digo que escrever ajuda, e muito.

As livrarias são fascinantes porque provam que duas pessoas interessantes podem se conhecer e se dar bem sem jamais terem se conhecido ou ouvido falar uma da outra. O poder dos livros e das palavras, do encantamento, do estranhamento é deslumbrante por ser reconfortante e complementar; eles estão lá, procurando ser vistos e entendidos, e nós vamos em busca deles, aspirando que nos toquem a alma ou nos ajudem a compreender este mundo. 

Da próxima vez que fores à livraria, entra, lê os títulos e demora. Todos os relacionamentos pedem um pouco de paciência.

1 comment:

  1. A sessão de política, sociologia e filosofia das livrarias me dá espasmos de prazer, e a sessão de culinária e a de línguas me dá apertos no peito de tanto interesse concentrado.

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