Sunday, May 29, 2011

Máscara de palhaço

Há uns dois meses, eu saí do restaurante em que estava almoçando num dia ensolarado de domingo e tomei um caminho "alternativo" para chegar em casa. Era menos movimentado, tinha umas mesas e cadeiras, uma espécie de corredor entre a saída do restaurante e a rua. Para minha surpresa, vi ali sentado um homem com roupas coloridas, sapatos grandes, rosto pintado. Tinha sido um palhaço, não o era mais! Numa das mãos segurava um cigarro aceso, olhava distante para lugar nenhum, estava aproveitando o momento seu de ser ele mesmo, de desvestir-se do que fora.

Aquilo me intrigou, de certo modo. Antes, um ser-humano que é para os outros, que se doa, se dá, se joga; agora um homem para si. Não pude vê-lo e analisá-lo tempo suficiente para dizer se ele estava triste ou alegre, mas com certeza ele estava refletindo sobre algo. Talvez na efemeridade da vida? Talvez numa doença que acabara de descobrir? Talvez na traição da sua esposa? Talvez no dinheiro que receberia pelo trabalho? Não sei, mas a intriga me pegou!

Não pela curiosidade - o que eu mesmo esperaria de mim! -, mas pela percepção de que somos vários. Somos vários porque queremos ou porque não queremos ser nós mesmos? Porque temos vergonha ou porque não temos outras opções?

Seja qual for a resposta, o certo é que há vários eus e outros em nós. O certo é que, em muitos momentos, temos que nos adaptar a situações. Mas eu tenho um receio: o de que, ao sermos as várias coisas, deixemos de ser nós mesmos.

Monday, May 9, 2011

Prazeres de Cada Dia

Ele sai de casa
Põe os pés na rua e caminha ao seu destino
Destino conhecido, tempo lento de divagações
Local definido, pouca pressa

Preocupações mínimas
..Ou talvez diferentes!

Preocupação em encontrar a música mais adequada,
O assobio que mais combine,
O compasso ideal para seus dedos serelepes,
Ideal de achar a moldura para aquele dia!

Tarefa arriscada,
Pelas crianças, pelos sorrisos, pelo parque
Distrações diversas, multiplicidade de escolhas!

O certo é que no final do dia,
mesmo sem moldura completa,
mesmo ainda com ânsia de terminar o que pensou em começar,
ele volta pra casa ansioso pelos dias que ele ainda irá batizar.

Sunday, April 17, 2011

Café!

Café!

Com leite
Com chocolate
Com canela
Com baunilha
Com açúcar
Com adoçante
Com menta
Com chantilly

Com você!

Proteções

Estive muito exposto à dor de pensar, às expectativas inocentes que não se realizavam, ao amor a longo prazo, à efemeridade da vida e à condenação perpétua dos de bom coração: ser bobo.

Sofria a isso calado, com os olhos em direção ao céu, com a mente perdida num horizonte intangível e, quiçá, inconcretizável.

Mas ele vem v i n d o...vindo! Chegou!

Pode não ser o que eu imaginara, mas chegou!

Amigos, companheiros, família, eu-mesmo - não o pessimista, mas o incentivador de loucuras apaixonáveis! - fizeram-me um cásulo, deram-me de comer, sinto a metamorfose.

Não sei se está completa, mas está em rumo. Um dia voarei!

Monday, April 11, 2011

Cansei

Uma vez eu estava ao lado de uma pessoa assistindo a TV - estávamos acompanhando uma edição do programa Globo Repórter, sobre a China -, quando o repórter mencionou algumas características da milenar cultura chinesa. Iniciando pela religião, ele comentou a respeito dos dragões chineses e das estrelas e de como os locais associam as duas coisas, e a pessoa ao meu lado falou: "Olha esses aí, que ridículos!" (A frase não foi exatamente essa, mas o sentido que ele lhe dera sim, e é isso que importa para este texto).

Isso me atingiu de uma forma tão diferente e inesperada, realmente fiquei decepcionado com a concepção do ser-humano ao meu lado. Eu já sabia que ele tinha uma mente bem fechada para diversas coisas, mas a manifestação verbal e diminutiva que ele proferiu me deixou paralisado. A sua cristandade cega e a maneira como ele a tornara uma arma dos racionais para com os irracionais me soaram de tal forma agressivas e positivistas que eu venho me recordando desse fato há três anos. Por que só agora resolvi externalizá-lo? Porque tudo tem um contexto.

Estou com medo. Não medo de comunistas, de burgueses ávidos por capital, de 2012 ou de atentados terroristas. O nosso problema é mais raso. Medo da direção à qual caminha o Brasil (e talvez o mundo, mas a reflexão de hoje é sobre o nosso país). A pessoa do início do texto está vivendo uma situação econômica bem favorável, e isso a está tornando mais importante. Ela tem mais contatos, ela dá mais ordens, ela agora tem um carro, ela cursa Direito, ela vai defender posições no nosso Congresso, nas ruas, nos bares. Ela vai ter filhos, e provavelmente lhes passará suas tradições. Nestes dois anos e pouco de faculdade, a vida me abriu portas, me abriu pessoas, lugares e oportunidades; as mais interessantes foram as diferentes, foram as humildes, as surpreendentes e, sobretudo, as críticas. E percebi como cresci como ser-humano, como me humanizei! Tenho medo de uma ditadura não oficial dessa maioria assustadora.

Estamos vivendo anos de não-crítica, de não-pensar, de não-ser diferente. Tudo tem que ser igual, rápido, eficiente, economicamente racional, pronto, frio. O médico tem que curar um paciente e contar ao outro que tem 5 dias de vida. O deputado tem que escrever um discurso maravilhoso para convencer o povo de algo de que ele não precisa. Nós precisamos comprar o que está na moda para sermos felizes, para não nos encararem estranho na rua e para nos valorizarmos como seres sociais. Temos que fazer aulas de mandarim na segunda às duas da manhã e ter uma reunião entre o almoço pronto do Mcdonald's e a aula da faculdade porque o mercado está mais e mais competitivo. Estamos abandonando nossas convicções, crenças, sentimentos e humanidade porque há muita cobrança, muita informação e muitas obrigações.

Mas isso, na verdade, não me parece algo novo. Claro que está mais evidente, mas isso é uma consequência do ritmo de vida que temos levado nos últimos anos. Tudo está mais intenso. A grande questão é que as pessoas continuam a ser ignorantes, e pior ainda, muitas delas continuam usando a ignorância dos outros a seu favor.

Continuamos a falar de direita e esquerda, de sequência de Fibonacci, de direitos humanos, da revolução da mídia, mas a grande verdade é que nunca se discute a base de tudo isso. A escola é um grande monstro de desestímulo às discussões benéficas. Não se fala sobre sexo, sobre o papel do ser-humano, sobre as nossas diferenças. Prega-se o igual. Tu tens que ser o mais inteligente para passar no vestibular e aí colocarem o teu nome nos outdoors, sem que eles se preocupem se é isso que realmente queres. Ser inteligente, curioso e querer descobrir não te faz uma pessoa melhor no colégio; ao contrário, te torna uma ovelha negra, numa época em que nossa cabeça não está muito estabilizada com nós próprios e com o mundo. Sem falar da necessidade que as escolas têm de passar os alunos para que eles continuem matriculados nelas.

Cansei-me, sinceramente. Desculpem pela trivialidade do texto - todo mundo já falou mal do sistema - mas eu me indignei com a situação do nosso país, que eu amo muito. O dinheiro está inundando nossas bolsas de valores, mas também o coração das pessoas. Estamos ficando mais importantes, temos mais poder e possibilidades, mas não estamos disseminando o respeito, a educação e os bons valores. Acabaremos formando conservadores, burocratas, pessoas frias; acabaremos com mais carros poluentes nas ruas e mais pessoas comprando outras pessoas; não haverá espaço para confiança, porque as verdinhas são os contratos.

Tô cansado de culpar o capitalismo; a culpa é da natureza humana mesmo, coisa que nunca discutimos porque nos parece trivial demais. "Ele faz, eu faço também" dizem os idiotas. Cansei-me dos idiotas também. Cansei-me dos não-humanos, desses zumbis que andam de óculos escuros neste mundo ensolarado.

Leitores deste blog, são pessoas como vocês que me incentivam a continuar! Obrigado!

Saturday, April 2, 2011

Mankind

I wish the term "mankind" would mean the same as kind man.

Monday, March 28, 2011

Vende-se

Chegou a nova etapa dos para-raios! Nada de elétrons, pontas metálicas e descargas elétricas! Estamos demasiado avançados para pensarmos em descargas elétricas. Os físicos já cuidaram disso. Trata-se agora de uma peça rara - inventada há mais de 20 anos, é verdade, porém só atualmente potencializada e em plena capacidade -, que não dá sinais de depreciação e que não cobra nada para funcionar.
Se queres te livrar de comentários ignorantes e egocêntricos das ruas ou das praças, se queres esquecer uma briga de família, se não queres te importar com a chuva que estraga os planos do final de semana, compra-a! Ela os absorve todos!
O único problema - acho que por isso ainda não tiveram tanto interesse - é que a peça só desliga quando quer e ela tem problemas para tomar decisões. O não desligar acarreta efeitos colaterais. Não te sentirás mais extremamente feliz, pois a peça te roubará as alegrias extremas. Não ganharás mais atenção ao retribuir um sorriso, uma vez que ela te tolherá o foco. Ah sim, não podemos nos esquecer da bobeira. Prepara-te para não ser mais o bobo da corte, o inocente com brilho nos olhos; a peça não desiste.

Cabe a ti agora pesar os custos e os benefícios. Perdão se te fiz alegrar demais no início, mas tive que ser sincero - a máquina está ligada e há uma música gostosa no fundo.

Friday, March 18, 2011

Permita-se

Permita-se sentir-se triste. Permita-se chorar. Permita-se tocar-se por si próprio ou por alguma coisa. Permita-se compartilhar sentimentos. Não são só os grandes momentos de alegrias e excitações que nos movem, mas também o que aprendemos e o que nos permitimos sentir quando estamos tristes.